domingo, 9 de agosto de 2015

Apenas um almoço de pai e filhos

Vi escrito num imã de geladeira na casa da minha irmã, mãe de duas moças, que filhas são meninas que crescem e viram nossas amigas, algo mais ou menos assim. Na minha casa há uma confraria masculina.
Num domingo qualquer em que eu trabalhei, meus três rapazes foram almoçar perto de casa, só o pai com os dois filhos. Contaram depois, cada um sua versão, foi um churrasquinho, com acompanhamentos gostosos,  acharam o custo interessante, ainda mais que no total da conta já estavam inclusas as cervejas.
Fiquei pensando como é bacana ver algumas coisas mudarem.
Eis que pai e filhos foram almoçar e tomaram cerveja juntos. Talvez tenha sido só mais um almoço, mas se fizeram companhia, falaram num patamar mais próximo. Agora vai longe o cadeirão, o cardápio infantil, a impaciência à mesa agora trocada pela urgência da  fome de adultos e as indefectíveis batatas fritas podem dar lugar a outros petiscos. Mais temperados.
Agora tomam cerveja, tradicional ritual, especialmente masculino, que significa compartilhar um agradável momento.
Falarão de outras cervejas, além dessa. Que um já tomou, outro não, que precisam compartilhar. Dada a minha ausência, vai ter mulher na conversa? Podia ter, importante falarem no assunto, sempre é bom trocarem informações. De futebol vão falar, sempre. Para se orgulhar ou lamentar.
Três homens à mesa, agora. Dois na casa dos vinte, um recém chegado no dígito 2 da dezena. Outro sorvendo cada minuto de dos cinquenta e alguma coisa. Já se cuidam reciprocamente. Já se censuram, com propriedade, por bobagens que fazem, que dizem. Homens com cerveja e histórias na mesa.
Os mais novos talvez vislumbrem que, quando chegarem na idade do pai, já terão várias questões resolvidas. O pai já sabe que há coisas que não se resolvem nunca. Mas não conta.
Hoje mesmo sendo  Dia dos Pais, dois dos três tiveram que trabalhar, a vida cobra faz tempo de um e está mostrando aos outros dois como ela é dura. Mas conforme ela segue, deixa clara a trajetória de amor que sempre envolveu os, agora, três consumidores de cerveja.  Que sejam pai e filhos, amigos cúmplices, torcedores do mesmo time, parceiros da vida sempre! Por ora ainda são dois filhos e um pai. É provável que um dia seja mais de um pai, um avô, uma criança pequena e (de novo! ) cadeirão e batatas fritas. Como dizia o meu pai,  "a história se repete". Destinos que envolvem afeto, cuidado. Os eternos fios de ouro que os enredam, sabido que à mesa, abençoando o brinde, haverá gerações que já foram, mas que se manifestam em gestos, olhares e jeitos de ser dos que estão lá. No dia dos Pais,  ou num dia de jogo do São Paulo, ou apenas para sentar e jogar conversa fora.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Olhar

 Precisava de mais tempo com você hoje.

Olhar para você, nos dois significados, verbo e substantivo.

 Verbo é ação - ver você.

Ou o olhar substantivo, o raio que emana dos meus olhos, "janelas da alma" sendo derramado  sobre você. E você entende tudo, Ou nada.

Entende o que quiser... ou nem percebe. Mas te alimento com o meu olhar. Tento nutrir melhor seu dia.

Muitos olhares, podem fazer os verbos mudarem. Palavras também. Expressões de contentamento, ou ao contrário também. Mas a gente consegue se falar, olhando.

As palavras podem ou poderiam assegurar as intenções. Mas preferimos brincar de esfinge, decifra-me ou devoro-te.

Fala pra mim...com olhar ou com palavras - o que eu olho e não estou vendo?

sábado, 7 de março de 2015

Venci você, 2014. Alguma coisa eu devo ter aprendido, se era isso que você queria.

Sempre ouvi dizer que não se deve menosprezar o adversário.
 Eis porque, esperei acabar 2014 para dizer que o venci.Vai que até o último minuto  ele aprontasse mais alguma...E dito e feito, faltando 48 horas para acabar, decidiu (não, não foi 2014 quem decidiu, mas aceitou ter nos seus registros) encerrar de forma serena, durante o repouso, os 94 anos do meu sogro, Chicralla Haidar. 
Aconteceu muita coisa, mas não vou falar demais. Esse foi um dos aprendizados melhores, aliás. Falar muito sobre esse muito pra que?
Cheguei aos 50 sem maiores problemas. Ao contrário, curti muito a passagem. Fiquei loira e comemorei com gente querida por perto, é isso que conta.
Senti angústia, me senti paralisada, comecei a fazer análise.
Comecei a aprender a não deixar mágoas passarem batido. Reclamei a atenção que eu queria, encompridei as conversas sem medo, para chegar onde eu queria. Dói escancarar o coração. Ainda não descobri porque, nem por que tem que escancarar se está tão aberto, tão próximo. É por isso mesmo?
Perdi o Pipo, meu cachorro. Sensação de culpa, de incompetência. Ou incapacidade de aceitar os desígnios da natureza?  Uma pela outra, o que ficou foi amargor. 
Dois dias depois do Pipo, vivi a emoção mais limite da minha vida, ver meu marido enfartar. Entendi o que é abismo e como assusta. Consegui manter a calma e vê-lo felizmente se recuperar. Parar de fumar, obrigada meu Deus. 
Achei que era tudo por aquele ano, para mim já era suficiente. Não, Tinha mais... Vi um filho levar um tombo (anunciado!) da vida e se redimir, crescer, amadurecer.  Vi o outro filho cair doente, uma semana internado, dor, rosto disforme, medo de afetar a visão, morfina e sair do hospital curado, ligando para os parceiros, agitando novos trabalhos. A melhor corrida de táxi por São Paulo da minha vida. 
Com tudo isso a vida não parou, fiquei ao sabor do vento até que o furacão da vida me engoliu. Estou levantando aos poucos. 
Da Copa lembro pouco, o enfarte do marido foi antes dos 7 a 1. Lembro que a abertura foi no dia dos Namorados e quase deletei o Brasil e Colômbia, que antecedeu o cateterismo, a UTI, a transferência para São Paulo, os 2 stents, a glicemia que não abaixava...
O peso de tudo começou a me envergar. A coluna mostrou que tem limites. Passei dor, dificuldade de locomoção, sensação de não dar conta da vida. Mas lembrei que um dos meninos disse quando pequeno, depois de me ver levar dois tombos, que eu sou resistente. E fui que fui.
Mais alguns aborrecimentos, mais raio-x, mais antiinflamatórios, analgésicos e encerrei o ano num porre de champagne, na praia. E voltamos, Ricky Coração Reformado e eu, de mãos dadas, metade a pé, metade de lotação para casa, trançando as pernas, rindo e zombando do 2014 que foi embora. Ele foi, nós ficamos. Há, há, há, rimos por último! Só Deus sabe como e graças a Ele. Infinitas graças a Deus! E que continue como vai se apresentando 2015,  ano da sobrevivência ao ano que passou, ao poder que se firmou, à crise que se instala...Que venga! Se não nos matou, 2014 nos fez mais fortes, mais bravos, mais tolerantes. Tomara que mais sábios. Isso só muito mais tempo para poder dizer. Primeiro vamos ver como acabamos 2015...