terça-feira, 28 de outubro de 2014

Eleições para Presidente

Eu queria a alternância no poder e acreditar que alguma coisa talvez mudasse. Não foi assim que a maioria decidiu e não podemos esquecer que esse é o ingrediente básico da democracia. Não cabe desqualificar e desrespeitar nem quem escolheu, nem quem foi escolhido, por menos que agrade. Não ter votado em quem vai exercer o poder não nos tira, nem nos exime da cidadania, muito pelo contrário. É hora de exigir, para começar, a liberdade de expressão e fazer bom uso dela. Fazer a sua parte bem feita e cobrar dos que tem que fazer algo. Não acreditar na honestidade como virtude, mas como premissa básica e obrigatória. No troco a mais da padaria ou na recusa em dar uma caixinha pra alguma coisa andar melhor. Ficar atento em quem está no poder, no grupo vitorioso ou no outro, que está lá para somar quando for preciso, mas para fiscalizar e se colocar contra quando for preciso. A eleição não encerrou a briga, ao contrário, ela é diária. Cabe a nós fazê-la limpa, justa e de forma respeitosa. Intimidar quem faz errado pela serenidade e consciência tranquila de quem faz certo, bem feito e honestamente por hábito. A política se faz todo dia, no cotidiano. Vamos fazer o nosso (até porque não tem outro jeito) e ficar de olhos abertos. De coração e coragem alertas para criticar e propor soluções quando preciso. Vamos em frente, lembrando que a graça da brincadeira é uns gostarem do vermelho, mas que ninguém esqueça que há os que gostam de azul. E vão usa-lo. E nunca podemos esquecer o branco, da paz por favor.

domingo, 10 de agosto de 2014

..."pai, pode crer eu tô bem, eu vou indo..." (Fabio Junior)

Vou sim. Mas vou sempre achar que você foi embora muito cedo.
Não pude ver você e os meus filhos juntos. Mas vejo coisas suas neles em pequenos e grandes detalhes.
Não tomei todas as aulas sobre vendas que podia ter com você. Depois que eu segui esse caminho é que percebi o quanto eu podia ter aprendido. Você era bom nisso.
Herdei de você a vocação para levar os filhos para todo lado. Meu lado "mãetorista" tem como exemplo as infindáveis vezes que você disse "pai é pra isso" ou quando o mico era maior "pai é bicho bobo".
 Segui a sua lição - ´percebi que você parecia me entender melhor quando fazia um mega esforço para ouvir as músicas que eu ouvia. Verdade que às vezes nem esperava eu descer do carro para mudar correndo o rádio de estação. Eu aprendi gostar de rock, toda manhã, do Itararé até a Ponta da Praia.
Seu exemplo de retidão foi marcante, busco perpetuá-lo para os seus netos, nesse mundo cada vez mais complicado. Seu ódio pela mentira - e era esse o único ódio verdadeiro de que tenho lembrança - é uma positiva perseguição. Num mundo de tanta aparência, admito que minto mal quando preciso. E ponho isso, com o seu aval, na coluna das virtudes, embora conviva com tanta gente que considera isso um defeito. Mas é de você que eu venho, não tem jeito!
Quando vejo entre os homens com que convivo alguém que me lembra você, principalmente na função de pai, digo logo que o cidadão ganhou um certificado especial no meu conceito. Como o meu marido,  pai dos seu dois netos mais novos, por exemplo.
Fico imaginando você num mundo em que a comunicação é tão fácil e rápida. Estaríamos filhas, genros e netos todos interligados em rede, 24 horas, sempre em condições de "dar posição à torre", como você dizia. Quando me vejo com quatro linhas de celular penso que você teria igual, me sinto à vontade tendo em vista o DNA que nos une. Pena que o máximo que você conseguiu, dada a tecnologia que conheceu, foi entupir nossos porta-niqueis de fichas telefônicas.
Não considero coincidência meus filhos estudarem nos endereços que foram ou seu local de trabalho ou sua grande referência. Ouso achar que de alguma forma você há de protegê-los de onde estiver. E o mais novo estuda na faculdade que você estudou, mesmo sem nunca ter exercido a profissão. Escolheu sem saber disso, olha o DNA de novo...
Outro trecho da clássica canção popular que fala de pai, que abriu esse texto, diz que "você faz parte desse caminho, que hoje eu sigo em paz". Sem dúvida, embora nem tão em paz, porque cada dia mais a vida é guerra. Tudo bem, isso você também me ensinou. Da melhor forma, com exemplo.
 A pior parte, que não dá sossego mesmo, você também não deve ter aprendido a domar, a saudade. Imensa...De te mandar um beijo e ouvir "dois procê".

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Rapazes, com licença, precisamos sentar um pouquinho.

Na rotina, a gente se acostuma a dar conta de tudo. Pilota quase todas as situações, às vezes no automático.

Convencemos quase todo mundo que fomos feitas  à imagem e semelhança da Mulher Maravilha. Afinal Eva foi absolutamente amadora em se deixar levar pela serpente e criou para nós um monte de problemas. E a Branca de Neve e suas parceiras tentaram nos fazer acreditar que os príncipes eram o máximo, mas não conseguiram. O jeito foi tentar se espelhar numa super heroína. Preferimos quase sempre ser guerreiras do que choronas.

Depois, passamos um tempão convencendo os homens que não somos menos nada que eles. Já admitimos que talvez tenhamos menos força física, menos objetividade. Mas podemos muitas coisas que eles podem.

O que acabou acontecendo é que ficou difícil, às vezes. Pouca gente  lembra que as nossas capas vão para a lavanderia de vez em quando. Ninguém percebe que às vezes temos que fazer muita pose para não borrar a maquiagem dos olhos.

Muitas de nós fizemos um esforço grande para aprender a falar diretamente o que queremos, para facilitar as coisas. E aí ganhamos a pecha de chatas, reclamonas. Era melhor continuar dando indiretas?  Responder "nada", quando perguntavam "o que aconteceu?"

Continuamos gostando de gentilezas, flores, lugares cedidos, colo. De sentir uma pequeno constrangimento quando riem das nossas raras e permitidas lágrimas, incrédulos porque podemos chorar por uma bobagem.

Adoramos cuidar de todo mundo, de nos preocupar com vários lados das questões, de fazer muitas coisas ao mesmo tempo e não concluir nenhuma, mas ter a sensação de ter encaminhado pelo menos a metade. Amanhã a gente acorda mais cedo e deixa tudo pronto, e acorda e deixa mesmo.

Gostaríamos de lembrar, entretanto, que paparicos e dengos são parte importante do nosso combustível. Não precisa ser uma dose grande, nada cinematográfico, pirotécnico. Às vezes até só um pouco de reconhecimento, um décimo de retribuição.

Não é preciso nos entender, isso sabemos que é difícil. Mas desconfiem de vez em quando de tanta força, de tanta disposição. Pensem em nos mandar (nessa hora podem mandar, sim) sentar e ir buscar um suco de maracujá, para que a TPM seja palatável para todos nós. De vez em quando, pelo menos.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Yansã


Quando joguei "Senhora" num site de busca, para o post anterior, veio a menção a Yansã. 

Embora não seja seguidora de nenhuma das religiões que reverenciam os Orixás, acho bonita a questão das divindades. Não sei a autoria, mas achei bela a Oração à Yansã. Com todo o respeito e rogando a proteção de todos os deuses e deusas de todos os credos, que puderem nos guiar pelos bons e menos tortuosos caminhos.   

Oração à Orixá Yansã

"Senhora das minhas incertezas
Senhora das minhas instabilidades
Senhora do confronto e das dúvidas
Senhora de minha alma

Senhora cúmplice da justiça
Senhora companheira do arco-íris
evapore as águas para o céu
e faça meu espírito vencedor

Senhora das senhoras do trovão
Senhora dos 7 raios da emoção
faça com que se cumpra o desejo de Olorum

Senhora da continuidade e da união
Senhora da sabedoria e do movimento
Senhora soberana dos ventos
que venceu os inimigos e poderosos
lance sua piedade sobre mim !

Ó Grande Rainha da Nação africana !
Corte com sua espada os meus empecilhos
estale o seu chicote nos meus caminhos
e me cubra com seu véu mágico da bondade."

Senhora

"A senhora, por favor..."

E olho em volta, ver se é comigo! E o susto se confirma, a senhora sou eu mesma.

Em todo lugar é assim que chamam quem já passou de alguma idade, que eu não sei definir bem qual é. Só sei que já cheguei nela. Cheguei e passei, admito.

Incomodava, no início. Pesava. Denuncia afinal que a aparência já é de...uma senhora! Quando uso esse argumento há quem diga que é apenas uma forma respeitosa de tratamento, bla, bla ,bla...E de novo quem me salva é o saudoso Cazuza - "mentiras sinceras me interessam"!

Repetir uma palavra faz com que ela soe familiar. E me pus a pensar no sentido.

Numa novela, décadas atras, o tema de uma mulher que superava a opressão de um marido machista e perverso e, finalmente,  aprendia a viver feliz era cantado pela Simone. Um trecho da canção sempre me chamou a atenção: "senhora das minhas vontades e dona de mim". Aí sim!

Ainda no campo dos folhetins eletrônicos, houve uma trama que contava a saga de uma mulher, que depois de milhares de adversidades venceu na vida e então o título era "Senhora do Destino.". Forte, batalhadora, excelente exemplo de mulher.

O Dcionário Aulete on line começa mal, mas melhora conforme explica:


(se.nho.ra) [ó]
sf.
1. Mulher idosa
2. Esposa
3. Na linguagem corrente, tratamento de respeito e/ou cortesia us. para mulheres [Abr. ger. us. em endereçamento postal: Sra.]
4. Mulher não determinada; qualquer pessoa adulta do sexo feminino: Uma senhora pediu que lhe desse informações sobre o concurso de que participaria.
5. Dona, proprietária
6. Ama, patroa
7. Mulher que exerce influência, autoridade, poder
8. Mulher de alta consideração
9. Ver senhoria (2)
a.
10. Bras. Excelente, ótima: O presidente do clube mora numa senhora casa.
[F.: Fem. de senhor.]

A senhora
1 Us. como tratamento mais ou menos formal ou respeitoso, por quem se dirige (na fala ou na escrita) a mulher (ger. adulta, ou mais velha).

Minha Nossa senhora
1 Ver Nossa Senhora (2).

Nossa senhora
1 No cristianismo, Maria, mãe de Jesus.
2 Us. como interjeição de admiração ou espanto; minha Nossa Senhora. [Tb. apenas, nesta acp., Nossa.]


Read more: http://aulete.uol.com.br/senhora#ixzz2xiLtHdfJ

Então, em algum sentido, senhora pode ser interessante. Tem uma conotação mais forte, poderosa. É todo o disfarce que uma pisciana precisa!

Na busca de me compreender, a essas alturas eu já entendi que nunca fui nada num sentido só. Quase sempre, para tudo, uma palavra apenas não basta.

E já que, da sabedoria que o tempo traz, uma das facetas mais interessantes é a aceitação do inevitável...
senhora, sim!





quinta-feira, 27 de março de 2014

Uma parte acho que já fiz...

E então você abre o Facebook e lê o seguinte:

"Uma pergunta que costuma intrigar é: O que é ser feliz?




Sou feliz? Sim, sou muito feliz.
Tenho amigos, pessoas que amo e que me amam, tenho uma família maravilhosa, tenho o que comer, onde morar, tenho trabalho e muitas outras coisas que me fazem feliz, não que para você ser feliz é preciso ter tudo o que eu disse, você pode não ter uma família ou uma casa e ser feliz...
Porém sempre achamos que precisamos de mais para nos tornarmos felizes, e isso é essencial para que continuemos. Continuemos correndo atrás de pessoas que amamos em busca de que nos amem, continuemos indo atrás dos nossos sonhos, das vivências que nos fazem bem, de sorrisos, abraços verdadeiros e beijos, aliás o que faz você feliz?
Pra mim ser feliz é: ter o suficiente para viver; não se preocupar MUITO com o que os outros pensam, pois você não vive para os outros e sim para você mesmo; ir atrás dos sonhos; levantar caso tropece; amar e ser amado; rir; chorar; gritar; dizer muitas vezes SIM, mas não hesitar o NÃO quando for necessário; manter a calma; ouvir e falar; ser solidário; brincar; reclamar apenas do que realmente importa para você; aprender com coisas pequenas; agradecer; apegar e desapegar; descobrir; pensar; respeitar; abraçar de verdade; curtir cada momento e tentar.
Conforme eu viver descobrirei outras coisas que me fazem feliz e essa lista, que com certeza deixei de colocar algumas coisas que já descobri, irá crescer e crescer...
Viva!"


E então você lembra de uma manhã, no final de julho, em que não foi trabalhar. Nem o marido. Era sábado e acordou um pouco mais tarde. Levantou bem devagar, sem fazer barulho e foi confirmar o que já tinha quase certeza. Usou o banheiro que não era o da suíte para ter certeza que estaria sozinha ao saber. Dois risquinhos azuis. Positivo. Que delícia, que alegria e...que medo, que responsabilidade! A missão de preparar uma pessoa para a vida. Zelar pela saúde, com tudo que isso significa. Educar, mas não tolher, nem reprimir. Ajudar a encontrar caminhos...

E hoje lendo isso, acho que eu consegui. Viva, Fabrízio!
 

quinta-feira, 13 de março de 2014

Rumo à segunda parte ou "enquanto estou viva, cheia de graça..."





Os jovens têm a memória curta e os olhos para ver apenas o nascer do sol; para o poente olham apenas os velhos, aqueles que viram o ocaso tantas vezes.
-- Giovanni Verga


Ainda que eu viva 100 anos, o que eu acho um exagero, então metade do caminho eu já percorri. Esta conclusão, aliada ao contato com familiares idosos tem me feito pensar sobre a velhice. Primeiro há que perder o medo da palavra. Depois, da situação. E entendê-la. No limite, curti-la.

Na média, parece que os privilégios conquistados pelos idosos não compensam as dificuldades. Talvez a solução seja apelar para a sabedoria, que então já deve ter se desenvolvido um pouquinho e mirar nas vantagens.

Percebo que algumas pessoas que já viveram bastante parecem estar mais confortáveis, menos inquietas diante das coisas. Ao mesmo tempo, já não têm mais paciência para o que é pequeno, rasteiro, sem importância. Ensinam que o tempo é precioso, é preciso emprega-lo no que vale a pena.

Por maior que sejam os cuidados com a saúde, alguns sinais se manifestam. Quase ninguém com mais de 40 enxerga de perto. Boa parte passa a ter problemas com açúcar, gorduras, com a digestão, com as articulações. O velho papo de que a vontade existe, mas o corpo avisa que já não vai mais no mesmo ritmo.

Ouço que não parece que faço 50, que estou muito bem. Agradeço e, na verdade, me sinto ótima. Algumas mulheres compartilham alguns medos. Lembro da música "toda idade tem prazer e medo..."
A parte do medo eu estou tentando ocupar só com prazer mesmo!

De repente me dei conta que a essa altura, posso muita coisa. Cresci ouvindo que muitas coisas ainda "não estavam na hora" - unhas vermelhas, maquiagem, sair à noite e só voltar de manhã.

Com o pretexto de que a uma senhora pega bem estar sempre bem arrumada (e em honra às meninas de todas as gerações da família Rico) não preciso mais ter medo de estar meio over, de ser perua...

Posso e devo viver como se  não houvesse amanhã. Posso porque a maturidade não tira a cabeça tão fácil de cima do pescoço (às vezes uma bobagem ou outra tenta...). Por que devo? Porque estou viva.

Posso e devo dizer não ao que é inconveniente. Posso porque não tenho mais que aturar o que me faz mal...E devo porque agora é a segunda parte, não tem mais tempo para ser feliz amanhã. É pra hoje, é agora!!

Já disse a sábia  Vovó do Rock, a querida Rita Lee: "enquanto estou viva, cheia de graça, talvez ainda faça um monte de gente feliz!" Eu inclusive! Uhuuuuuu!"