quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Primulas no olho mágico

Muitos amigos elogiam minha memória. De fato, lembro de fatos, detalhes, situações que muita gente nem acredita. Sinceramente, lembro de muitas coisas inúteis, mas enquanto estou razoavelmente lembrada das úteis , não estou muito preocupada.



É verdade que as primulas naquele olho mágico foram determinantes no futuro da minha vida. Não foram um mero detalhe - acho que foram um acontecimento! É obvio que vou lembrar delas para o resto da vida.

O ritual já estava mais ou menos definido - após o jantar, tanto o da minha casa, quanto da dele, ele vinha. Beijo de boas vindas na chegada, abraço e sempre uma felicidade no coração. Sempre fiz questão de correr para abrir a porta, sempre sabia que era ele (depois de algum tempo o porteiro já nem tocava mais o interfone - a partir de quando isso ocorreu, essa data me escapou!) mas sempre olhava no olho mágico. Acho que sentia um secreto privilégio - de vê-lo primeiro, saber qual a roupa, qual a cara - as vezes uma careta de brincadeira, pois ele sabia que eu que abria a porta. Tanto que quando tinha alguma surpresa, tampava com o dedo a lente do visor.

Mas no dia das prímulas, as duas mãos ocupadas segurando o vaso, a singeleza e o coração aberto de quem traz flores, nem o fizeram tampar minha visão. E foi naquele momento que eu tive certeza de várias coisas. Eu contara na agenda, aquele ritual tão diário quanto a rotina permitia completva então seu trigésimo dia. "Ele lembrou!', pensei feliz. Então é sério? Acho que sim.

E outros dias 26 foram passando, uns com presentes, uns com flores, uns com bombons, uns com comemoração, outros só com telefonema. Mas parece que quando eu o vi com um vaso de primulas na mão, depois de um mês de namoro, eu consegui antever que muita alegria, muito amor, carinho, parceria, compreensão viriam. E vieram, trouxeram mais duas pessoas iluminadas que são os nossos filhos e, sinto que muitos beijos, abraços, carinhos, amor, felicidade, alegria, flores, presentes, comemorações, bombons (agora diet!) ainda acontecem e devem acontecer. Agradeci no dia, era então 26 de agosto de 1985 e hoje continuo lembrando, agradecendo e curtindo as primulas que meu amor me trouxe. Ricky, amo você!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Foi dia 6, faz 20 dias, mas não posso deixar de registrar.


No auge da dor da perda, no momento em que nos despediamos do tio Alfredo, o filho dele, meu primo Paulo, leu a homenagem abaixo, que não podia ser mais verossímil. Quem teve realmente a sorte e a benção de conviver com ele sabe que tudo o que o Paulo falou é verdade.

A falta que ele faz é grande, saudade traz um pouquinho de tristeza, mas por outro lado, que bela missão, hein?

Tentando consolar a Lilian no funeral eu disse a ela para olhar em volta e ver quanta coisa boa ele estava deixando - três filhos que sempre tiveram nele um exemplo impecável, que se tornaram pessoas íntegras, lutadoras, mas nem porisso menos carinhosas, prestativas, seres humanos da melhor qualidade. Durante alguns percalços que o Ricky e eu tivemos na vida eu lembrava de coisas parecidas que tinham acontecido com o tio Alfredo e lembrava da coragem, firmeza com que ele passou por tudo isso. Por algumas vezes, ao contar para a tia Marilene o que estava acontecendo conosco, eu disse para ela que me espelhava na trajetória - sempre ao final vitoriosa- do tio Alfredo. A saída dele do nosso convívio é difícil de conviver, mas...com tantas coisas boas que ele fez na vida, ficamos com a maravilhosa imagem de afeto, dedicação, trabalho e agradecemos pela sua existência e por não deixa-lo mais sofrer, com a saúde debilitada dos últimos tempos. Pedir a Deus que o tenha em bom lugar é sempre interessante...mas alguma dúvida de que é gente como ele que fica bem pertinho do Criador? E abaixo, o que o Paulo escreveu para ele. Se quando eu me for, um filho disser isso de mim, vou ter certeza que cumpri minha missão - como o tio Alfredo certamente cumpriu!
Finda uma trajetória de um homem que foi brilhante por ser comum.
Alguém que demonstrou que ética não é apenas um conceito, mas uma prática diária e constante.
Que o trabalho vai honrá-lo a medida que você o honrar.
Que a família é o bem maior de um homem.
Que perder ou fracassar faz parte da vida, o que não faz parte é desistir. Que, quando errar, assuma-se o erro, enfrente as consequências, corrija o que for possível e aprenda todas as lições.
Que não se deve criticar algo ou alguém se não tiver algo positivo a acrescentar.
Que não se deve julgar ninguém, porque você provavelmente não terá todos os elementos necessários para fazer um juízo imparcial.
Que a retidão de caráter é o caminho mais curto para uma tranquilidade interna.
Que todo e qualquer trabalho merece respeito.
Que o "sim" e o "não" são respostas válidas a um pedido.(Embora eu nunca tenha ouvido um "não" dele a um ente querido que tenha solicitado ajuda ao Alfredo.)
Faça apenas o que puder, mas faça bem feito...
Valeu, Alfredo.
Obrigado, Deus, por nos permitir conhecer e conviver com o Alfredo.