domingo, 10 de agosto de 2014

..."pai, pode crer eu tô bem, eu vou indo..." (Fabio Junior)

Vou sim. Mas vou sempre achar que você foi embora muito cedo.
Não pude ver você e os meus filhos juntos. Mas vejo coisas suas neles em pequenos e grandes detalhes.
Não tomei todas as aulas sobre vendas que podia ter com você. Depois que eu segui esse caminho é que percebi o quanto eu podia ter aprendido. Você era bom nisso.
Herdei de você a vocação para levar os filhos para todo lado. Meu lado "mãetorista" tem como exemplo as infindáveis vezes que você disse "pai é pra isso" ou quando o mico era maior "pai é bicho bobo".
 Segui a sua lição - ´percebi que você parecia me entender melhor quando fazia um mega esforço para ouvir as músicas que eu ouvia. Verdade que às vezes nem esperava eu descer do carro para mudar correndo o rádio de estação. Eu aprendi gostar de rock, toda manhã, do Itararé até a Ponta da Praia.
Seu exemplo de retidão foi marcante, busco perpetuá-lo para os seus netos, nesse mundo cada vez mais complicado. Seu ódio pela mentira - e era esse o único ódio verdadeiro de que tenho lembrança - é uma positiva perseguição. Num mundo de tanta aparência, admito que minto mal quando preciso. E ponho isso, com o seu aval, na coluna das virtudes, embora conviva com tanta gente que considera isso um defeito. Mas é de você que eu venho, não tem jeito!
Quando vejo entre os homens com que convivo alguém que me lembra você, principalmente na função de pai, digo logo que o cidadão ganhou um certificado especial no meu conceito. Como o meu marido,  pai dos seu dois netos mais novos, por exemplo.
Fico imaginando você num mundo em que a comunicação é tão fácil e rápida. Estaríamos filhas, genros e netos todos interligados em rede, 24 horas, sempre em condições de "dar posição à torre", como você dizia. Quando me vejo com quatro linhas de celular penso que você teria igual, me sinto à vontade tendo em vista o DNA que nos une. Pena que o máximo que você conseguiu, dada a tecnologia que conheceu, foi entupir nossos porta-niqueis de fichas telefônicas.
Não considero coincidência meus filhos estudarem nos endereços que foram ou seu local de trabalho ou sua grande referência. Ouso achar que de alguma forma você há de protegê-los de onde estiver. E o mais novo estuda na faculdade que você estudou, mesmo sem nunca ter exercido a profissão. Escolheu sem saber disso, olha o DNA de novo...
Outro trecho da clássica canção popular que fala de pai, que abriu esse texto, diz que "você faz parte desse caminho, que hoje eu sigo em paz". Sem dúvida, embora nem tão em paz, porque cada dia mais a vida é guerra. Tudo bem, isso você também me ensinou. Da melhor forma, com exemplo.
 A pior parte, que não dá sossego mesmo, você também não deve ter aprendido a domar, a saudade. Imensa...De te mandar um beijo e ouvir "dois procê".

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