Vi escrito num imã de geladeira na casa da minha irmã, mãe de duas moças, que filhas são meninas que crescem e viram nossas amigas, algo mais ou menos assim. Na minha casa há uma confraria masculina.
Num domingo qualquer em que eu trabalhei, meus três rapazes foram almoçar perto de casa, só o pai com os dois filhos. Contaram depois, cada um sua versão, foi um churrasquinho, com acompanhamentos gostosos, acharam o custo interessante, ainda mais que no total da conta já estavam inclusas as cervejas.
Fiquei pensando como é bacana ver algumas coisas mudarem.
Eis que pai e filhos foram almoçar e tomaram cerveja juntos. Talvez tenha sido só mais um almoço, mas se fizeram companhia, falaram num patamar mais próximo. Agora vai longe o cadeirão, o cardápio infantil, a impaciência à mesa agora trocada pela urgência da fome de adultos e as indefectíveis batatas fritas podem dar lugar a outros petiscos. Mais temperados.
Agora tomam cerveja, tradicional ritual, especialmente masculino, que significa compartilhar um agradável momento.
Falarão de outras cervejas, além dessa. Que um já tomou, outro não, que precisam compartilhar. Dada a minha ausência, vai ter mulher na conversa? Podia ter, importante falarem no assunto, sempre é bom trocarem informações. De futebol vão falar, sempre. Para se orgulhar ou lamentar.
Três homens à mesa, agora. Dois na casa dos vinte, um recém chegado no dígito 2 da dezena. Outro sorvendo cada minuto de dos cinquenta e alguma coisa. Já se cuidam reciprocamente. Já se censuram, com propriedade, por bobagens que fazem, que dizem. Homens com cerveja e histórias na mesa.
Os mais novos talvez vislumbrem que, quando chegarem na idade do pai, já terão várias questões resolvidas. O pai já sabe que há coisas que não se resolvem nunca. Mas não conta.
Hoje mesmo sendo Dia dos Pais, dois dos três tiveram que trabalhar, a vida cobra faz tempo de um e está mostrando aos outros dois como ela é dura. Mas conforme ela segue, deixa clara a trajetória de amor que sempre envolveu os, agora, três consumidores de cerveja. Que sejam pai e filhos, amigos cúmplices, torcedores do mesmo time, parceiros da vida sempre! Por ora ainda são dois filhos e um pai. É provável que um dia seja mais de um pai, um avô, uma criança pequena e (de novo! ) cadeirão e batatas fritas. Como dizia o meu pai, "a história se repete". Destinos que envolvem afeto, cuidado. Os eternos fios de ouro que os enredam, sabido que à mesa, abençoando o brinde, haverá gerações que já foram, mas que se manifestam em gestos, olhares e jeitos de ser dos que estão lá. No dia dos Pais, ou num dia de jogo do São Paulo, ou apenas para sentar e jogar conversa fora.