quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Ainda sou eu

Fazia muito tempo que não vinha postar nada. 

Engraçado como anos de ausência podem ter tantos significados, com as respectivas consequencias. 

Se este espaço fosse um caderno que recebesse textos escritos a lápis ou à tinta, tenho a impressão de que é como se tivesse ficado escondido sob o solo, a salvo da ação do tempo. Eu não, eu trago sinais de que estive exposta às intemperies, todas - sol, vento, chuva, doenças, umidade e secura do ar, preocupações e, claro, à ação do tempo! Passei pela parte boa também :bons drinks, cafés, vinhos e águas, provei boas iguarias, ri muito, passei a chorar bem menos.  Tenho comigo os abraços e beijos diários e frequentes do meu amor, a felicidade de ver meus filhos vivendo, com orgulho das pessoas que viraram. 

Na verdade, resisti! Sobrevivi. Mudei. Esqueci coisas ao mesmo tempo que coleciono diariamente boas lembranças. E vivo! Drasticamente, embora muito frequentemente guardada no meu canto. 

domingo, 9 de agosto de 2015

Apenas um almoço de pai e filhos

Vi escrito num imã de geladeira na casa da minha irmã, mãe de duas moças, que filhas são meninas que crescem e viram nossas amigas, algo mais ou menos assim. Na minha casa há uma confraria masculina.
Num domingo qualquer em que eu trabalhei, meus três rapazes foram almoçar perto de casa, só o pai com os dois filhos. Contaram depois, cada um sua versão, foi um churrasquinho, com acompanhamentos gostosos,  acharam o custo interessante, ainda mais que no total da conta já estavam inclusas as cervejas.
Fiquei pensando como é bacana ver algumas coisas mudarem.
Eis que pai e filhos foram almoçar e tomaram cerveja juntos. Talvez tenha sido só mais um almoço, mas se fizeram companhia, falaram num patamar mais próximo. Agora vai longe o cadeirão, o cardápio infantil, a impaciência à mesa agora trocada pela urgência da  fome de adultos e as indefectíveis batatas fritas podem dar lugar a outros petiscos. Mais temperados.
Agora tomam cerveja, tradicional ritual, especialmente masculino, que significa compartilhar um agradável momento.
Falarão de outras cervejas, além dessa. Que um já tomou, outro não, que precisam compartilhar. Dada a minha ausência, vai ter mulher na conversa? Podia ter, importante falarem no assunto, sempre é bom trocarem informações. De futebol vão falar, sempre. Para se orgulhar ou lamentar.
Três homens à mesa, agora. Dois na casa dos vinte, um recém chegado no dígito 2 da dezena. Outro sorvendo cada minuto de dos cinquenta e alguma coisa. Já se cuidam reciprocamente. Já se censuram, com propriedade, por bobagens que fazem, que dizem. Homens com cerveja e histórias na mesa.
Os mais novos talvez vislumbrem que, quando chegarem na idade do pai, já terão várias questões resolvidas. O pai já sabe que há coisas que não se resolvem nunca. Mas não conta.
Hoje mesmo sendo  Dia dos Pais, dois dos três tiveram que trabalhar, a vida cobra faz tempo de um e está mostrando aos outros dois como ela é dura. Mas conforme ela segue, deixa clara a trajetória de amor que sempre envolveu os, agora, três consumidores de cerveja.  Que sejam pai e filhos, amigos cúmplices, torcedores do mesmo time, parceiros da vida sempre! Por ora ainda são dois filhos e um pai. É provável que um dia seja mais de um pai, um avô, uma criança pequena e (de novo! ) cadeirão e batatas fritas. Como dizia o meu pai,  "a história se repete". Destinos que envolvem afeto, cuidado. Os eternos fios de ouro que os enredam, sabido que à mesa, abençoando o brinde, haverá gerações que já foram, mas que se manifestam em gestos, olhares e jeitos de ser dos que estão lá. No dia dos Pais,  ou num dia de jogo do São Paulo, ou apenas para sentar e jogar conversa fora.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Olhar

 Precisava de mais tempo com você hoje.

Olhar para você, nos dois significados, verbo e substantivo.

 Verbo é ação - ver você.

Ou o olhar substantivo, o raio que emana dos meus olhos, "janelas da alma" sendo derramado  sobre você. E você entende tudo, Ou nada.

Entende o que quiser... ou nem percebe. Mas te alimento com o meu olhar. Tento nutrir melhor seu dia.

Muitos olhares, podem fazer os verbos mudarem. Palavras também. Expressões de contentamento, ou ao contrário também. Mas a gente consegue se falar, olhando.

As palavras podem ou poderiam assegurar as intenções. Mas preferimos brincar de esfinge, decifra-me ou devoro-te.

Fala pra mim...com olhar ou com palavras - o que eu olho e não estou vendo?

sábado, 7 de março de 2015

Venci você, 2014. Alguma coisa eu devo ter aprendido, se era isso que você queria.

Sempre ouvi dizer que não se deve menosprezar o adversário.
 Eis porque, esperei acabar 2014 para dizer que o venci.Vai que até o último minuto  ele aprontasse mais alguma...E dito e feito, faltando 48 horas para acabar, decidiu (não, não foi 2014 quem decidiu, mas aceitou ter nos seus registros) encerrar de forma serena, durante o repouso, os 94 anos do meu sogro, Chicralla Haidar. 
Aconteceu muita coisa, mas não vou falar demais. Esse foi um dos aprendizados melhores, aliás. Falar muito sobre esse muito pra que?
Cheguei aos 50 sem maiores problemas. Ao contrário, curti muito a passagem. Fiquei loira e comemorei com gente querida por perto, é isso que conta.
Senti angústia, me senti paralisada, comecei a fazer análise.
Comecei a aprender a não deixar mágoas passarem batido. Reclamei a atenção que eu queria, encompridei as conversas sem medo, para chegar onde eu queria. Dói escancarar o coração. Ainda não descobri porque, nem por que tem que escancarar se está tão aberto, tão próximo. É por isso mesmo?
Perdi o Pipo, meu cachorro. Sensação de culpa, de incompetência. Ou incapacidade de aceitar os desígnios da natureza?  Uma pela outra, o que ficou foi amargor. 
Dois dias depois do Pipo, vivi a emoção mais limite da minha vida, ver meu marido enfartar. Entendi o que é abismo e como assusta. Consegui manter a calma e vê-lo felizmente se recuperar. Parar de fumar, obrigada meu Deus. 
Achei que era tudo por aquele ano, para mim já era suficiente. Não, Tinha mais... Vi um filho levar um tombo (anunciado!) da vida e se redimir, crescer, amadurecer.  Vi o outro filho cair doente, uma semana internado, dor, rosto disforme, medo de afetar a visão, morfina e sair do hospital curado, ligando para os parceiros, agitando novos trabalhos. A melhor corrida de táxi por São Paulo da minha vida. 
Com tudo isso a vida não parou, fiquei ao sabor do vento até que o furacão da vida me engoliu. Estou levantando aos poucos. 
Da Copa lembro pouco, o enfarte do marido foi antes dos 7 a 1. Lembro que a abertura foi no dia dos Namorados e quase deletei o Brasil e Colômbia, que antecedeu o cateterismo, a UTI, a transferência para São Paulo, os 2 stents, a glicemia que não abaixava...
O peso de tudo começou a me envergar. A coluna mostrou que tem limites. Passei dor, dificuldade de locomoção, sensação de não dar conta da vida. Mas lembrei que um dos meninos disse quando pequeno, depois de me ver levar dois tombos, que eu sou resistente. E fui que fui.
Mais alguns aborrecimentos, mais raio-x, mais antiinflamatórios, analgésicos e encerrei o ano num porre de champagne, na praia. E voltamos, Ricky Coração Reformado e eu, de mãos dadas, metade a pé, metade de lotação para casa, trançando as pernas, rindo e zombando do 2014 que foi embora. Ele foi, nós ficamos. Há, há, há, rimos por último! Só Deus sabe como e graças a Ele. Infinitas graças a Deus! E que continue como vai se apresentando 2015,  ano da sobrevivência ao ano que passou, ao poder que se firmou, à crise que se instala...Que venga! Se não nos matou, 2014 nos fez mais fortes, mais bravos, mais tolerantes. Tomara que mais sábios. Isso só muito mais tempo para poder dizer. Primeiro vamos ver como acabamos 2015...   











terça-feira, 28 de outubro de 2014

Eleições para Presidente

Eu queria a alternância no poder e acreditar que alguma coisa talvez mudasse. Não foi assim que a maioria decidiu e não podemos esquecer que esse é o ingrediente básico da democracia. Não cabe desqualificar e desrespeitar nem quem escolheu, nem quem foi escolhido, por menos que agrade. Não ter votado em quem vai exercer o poder não nos tira, nem nos exime da cidadania, muito pelo contrário. É hora de exigir, para começar, a liberdade de expressão e fazer bom uso dela. Fazer a sua parte bem feita e cobrar dos que tem que fazer algo. Não acreditar na honestidade como virtude, mas como premissa básica e obrigatória. No troco a mais da padaria ou na recusa em dar uma caixinha pra alguma coisa andar melhor. Ficar atento em quem está no poder, no grupo vitorioso ou no outro, que está lá para somar quando for preciso, mas para fiscalizar e se colocar contra quando for preciso. A eleição não encerrou a briga, ao contrário, ela é diária. Cabe a nós fazê-la limpa, justa e de forma respeitosa. Intimidar quem faz errado pela serenidade e consciência tranquila de quem faz certo, bem feito e honestamente por hábito. A política se faz todo dia, no cotidiano. Vamos fazer o nosso (até porque não tem outro jeito) e ficar de olhos abertos. De coração e coragem alertas para criticar e propor soluções quando preciso. Vamos em frente, lembrando que a graça da brincadeira é uns gostarem do vermelho, mas que ninguém esqueça que há os que gostam de azul. E vão usa-lo. E nunca podemos esquecer o branco, da paz por favor.

domingo, 10 de agosto de 2014

..."pai, pode crer eu tô bem, eu vou indo..." (Fabio Junior)

Vou sim. Mas vou sempre achar que você foi embora muito cedo.
Não pude ver você e os meus filhos juntos. Mas vejo coisas suas neles em pequenos e grandes detalhes.
Não tomei todas as aulas sobre vendas que podia ter com você. Depois que eu segui esse caminho é que percebi o quanto eu podia ter aprendido. Você era bom nisso.
Herdei de você a vocação para levar os filhos para todo lado. Meu lado "mãetorista" tem como exemplo as infindáveis vezes que você disse "pai é pra isso" ou quando o mico era maior "pai é bicho bobo".
 Segui a sua lição - ´percebi que você parecia me entender melhor quando fazia um mega esforço para ouvir as músicas que eu ouvia. Verdade que às vezes nem esperava eu descer do carro para mudar correndo o rádio de estação. Eu aprendi gostar de rock, toda manhã, do Itararé até a Ponta da Praia.
Seu exemplo de retidão foi marcante, busco perpetuá-lo para os seus netos, nesse mundo cada vez mais complicado. Seu ódio pela mentira - e era esse o único ódio verdadeiro de que tenho lembrança - é uma positiva perseguição. Num mundo de tanta aparência, admito que minto mal quando preciso. E ponho isso, com o seu aval, na coluna das virtudes, embora conviva com tanta gente que considera isso um defeito. Mas é de você que eu venho, não tem jeito!
Quando vejo entre os homens com que convivo alguém que me lembra você, principalmente na função de pai, digo logo que o cidadão ganhou um certificado especial no meu conceito. Como o meu marido,  pai dos seu dois netos mais novos, por exemplo.
Fico imaginando você num mundo em que a comunicação é tão fácil e rápida. Estaríamos filhas, genros e netos todos interligados em rede, 24 horas, sempre em condições de "dar posição à torre", como você dizia. Quando me vejo com quatro linhas de celular penso que você teria igual, me sinto à vontade tendo em vista o DNA que nos une. Pena que o máximo que você conseguiu, dada a tecnologia que conheceu, foi entupir nossos porta-niqueis de fichas telefônicas.
Não considero coincidência meus filhos estudarem nos endereços que foram ou seu local de trabalho ou sua grande referência. Ouso achar que de alguma forma você há de protegê-los de onde estiver. E o mais novo estuda na faculdade que você estudou, mesmo sem nunca ter exercido a profissão. Escolheu sem saber disso, olha o DNA de novo...
Outro trecho da clássica canção popular que fala de pai, que abriu esse texto, diz que "você faz parte desse caminho, que hoje eu sigo em paz". Sem dúvida, embora nem tão em paz, porque cada dia mais a vida é guerra. Tudo bem, isso você também me ensinou. Da melhor forma, com exemplo.
 A pior parte, que não dá sossego mesmo, você também não deve ter aprendido a domar, a saudade. Imensa...De te mandar um beijo e ouvir "dois procê".

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Rapazes, com licença, precisamos sentar um pouquinho.

Na rotina, a gente se acostuma a dar conta de tudo. Pilota quase todas as situações, às vezes no automático.

Convencemos quase todo mundo que fomos feitas  à imagem e semelhança da Mulher Maravilha. Afinal Eva foi absolutamente amadora em se deixar levar pela serpente e criou para nós um monte de problemas. E a Branca de Neve e suas parceiras tentaram nos fazer acreditar que os príncipes eram o máximo, mas não conseguiram. O jeito foi tentar se espelhar numa super heroína. Preferimos quase sempre ser guerreiras do que choronas.

Depois, passamos um tempão convencendo os homens que não somos menos nada que eles. Já admitimos que talvez tenhamos menos força física, menos objetividade. Mas podemos muitas coisas que eles podem.

O que acabou acontecendo é que ficou difícil, às vezes. Pouca gente  lembra que as nossas capas vão para a lavanderia de vez em quando. Ninguém percebe que às vezes temos que fazer muita pose para não borrar a maquiagem dos olhos.

Muitas de nós fizemos um esforço grande para aprender a falar diretamente o que queremos, para facilitar as coisas. E aí ganhamos a pecha de chatas, reclamonas. Era melhor continuar dando indiretas?  Responder "nada", quando perguntavam "o que aconteceu?"

Continuamos gostando de gentilezas, flores, lugares cedidos, colo. De sentir uma pequeno constrangimento quando riem das nossas raras e permitidas lágrimas, incrédulos porque podemos chorar por uma bobagem.

Adoramos cuidar de todo mundo, de nos preocupar com vários lados das questões, de fazer muitas coisas ao mesmo tempo e não concluir nenhuma, mas ter a sensação de ter encaminhado pelo menos a metade. Amanhã a gente acorda mais cedo e deixa tudo pronto, e acorda e deixa mesmo.

Gostaríamos de lembrar, entretanto, que paparicos e dengos são parte importante do nosso combustível. Não precisa ser uma dose grande, nada cinematográfico, pirotécnico. Às vezes até só um pouco de reconhecimento, um décimo de retribuição.

Não é preciso nos entender, isso sabemos que é difícil. Mas desconfiem de vez em quando de tanta força, de tanta disposição. Pensem em nos mandar (nessa hora podem mandar, sim) sentar e ir buscar um suco de maracujá, para que a TPM seja palatável para todos nós. De vez em quando, pelo menos.